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Agenda do Poder - Carole Bê (12/12/2025)

Estado do Rio tem a 6ª maior taxa de desemprego do país, apesar de ser a 2ª economia nacional; entenda

RJ enfrenta desafios estruturais e alta informalidade, mesmo com recuperação pós-pandemia

O Rio de Janeiro registrou, no primeiro trimestre de 2025, a sexta maior taxa de desemprego entre os estados brasileiros, mesmo sendo a segunda principal economia do país, informa o jornal Folha de S. Paulo. De acordo com os dados mais recentes da Pnad Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a desocupação no estado foi de 9,3%, índice idêntico ao de Sergipe.

O número é consideravelmente mais alto do que a média nacional para o período, que foi de 7% — a menor já registrada para um primeiro trimestre desde o início da série histórica. No ranking estadual, apenas Pernambuco (11,6%), Bahia (10,9%), Piauí (10,2%), Amazonas (10,1%) e Rio Grande do Norte (9,8%) superam o Rio em desemprego. Na outra ponta, Santa Catarina lidera com a menor taxa, de apenas 3%.

Apesar da tendência de queda desde o pico da pandemia, quando o Rio atingiu 19,6% de desocupação no fim de 2020 e início de 2021, o indicador ainda está distante dos melhores momentos da última década. No quarto trimestre de 2014, o estado registrava uma taxa de apenas 5,8%, em meio ao ciclo de investimentos ligados à Copa do Mundo e aos preparativos para as Olimpíadas de 2016. À época, a desocupação fluminense era a oitava menor do Brasil.

“O mercado de trabalho estava aquecido naquela época, com obras de Copa e Olimpíadas. Foi um período extremamente atípico”, explica Jonathas Goulart, gerente de estudos econômicos da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). Para ele, o atual patamar ainda reflete impactos anteriores à pandemia, como a recessão de 2014 a 2016, a crise no setor de petróleo, os cortes de investimentos da Petrobras após a Lava Jato e a queda nos grandes eventos que movimentavam a economia local.

“Se lá atrás o Brasil teve um cenário muito complexo, o Rio de Janeiro teve uma tempestade perfeita”, resume Goulart.


Legado de instabilidade e informalidade elevada

Gilberto Braga, economista e professor do Ibmec, destaca que o estado ainda sente os efeitos de anos de instabilidade política e fiscal. “O estado está no regime de recuperação fiscal, governadores não terminaram seus mandatos, houve quebra de políticas sociais, além de um esvaziamento financeiro em favorecimento de São Paulo nos últimos 20 anos”, afirma.

A informalidade também segue elevada no estado. Segundo o IBGE, 37,2% dos trabalhadores fluminenses atuavam sem carteira assinada ou CNPJ no primeiro trimestre de 2025. É a segunda maior taxa entre os estados das regiões Sudeste e Sul, atrás apenas do Espírito Santo (37,5%). A média nacional foi de 38%, com pico no Maranhão (58,4%) e mínima em Santa Catarina (25,3%).

A realidade de Karina Larissa Silva Macedo, 24, moradora de Nova Iguaçu, ilustra esse cenário. Sem nunca ter trabalhado com carteira assinada, ela relata dificuldades para conseguir emprego, inclusive por conta de discriminação. “Estou atrás, correndo. Tenho filho pequeno, ele é autista. Preciso de trabalho para cuidar dele, da saúde dele. É muito difícil”, conta.


Especialistas pedem políticas territoriais

Para Marcelo Neri, diretor do centro de estudos FGV Social, o estado precisa investir em soluções regionais integradas e no fortalecimento da educação. “O Rio de Janeiro é um estado metropolitano, tem três quartos da população na Grande Rio. A metrópole tem uma série de problemas coletivos, como a questão das comunidades dominadas por milícias e tráfico”, afirma.

Ele também alerta para desafios no médio prazo, como a previsão de queda da produção do pré-sal a partir de 2030. “O Rio é um estado movido a petróleo, e as reservas são finitas. Se a situação hoje não é tão confortável, também existem fatores de preocupação olhando para o futuro”, diz.

Por outro lado, Gilberto Braga vê oportunidades na transição energética. “O Rio pode ter um papel de liderança”, aponta.


Participação no PIB e ações do governo

Mesmo diante dos desafios, o Rio de Janeiro respondeu por 11,4% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional em 2022, segundo o IBGE — segunda maior participação entre os estados, atrás apenas de São Paulo (31,1%).

A Secretaria de Trabalho e Renda do governo fluminense afirmou, em nota, que o estado vive um processo de recuperação econômica “consistente” nos últimos quatro anos. A pasta destacou avanços na geração de empregos formais, recordes na abertura de empresas e a retomada do crescimento em setores como serviços, turismo, petróleo, gás e construção civil.

“A taxa de desemprego, apesar de ainda alta, está em queda constante, acompanhando o fortalecimento da economia”, diz a nota.

Entre as iniciativas implementadas, o governo menciona incentivos fiscais, parcerias público-privadas, programas de qualificação profissional e estímulo ao empreendedorismo como estratégias para reverter o cenário e reduzir a vulnerabilidade social no estado.