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O Globo - Luciana Casemiro (11/12/2025)

Desaceleração da inflação e antecipação de promoções explicam resultado do varejo acima das estimativas, dizem economistas

O avanço acima do previsto, porém, não altera as projeções para o comércio ao longo de 2025, para o qual ainda se estima um crescimento próximo a 2%

O alívio da inflação e a antecipação das promoções podem explicar o resultado surpreendente do varejo em outubro: uma alta de 0,5%, após o recuo de 0,3% registrado em setembro, dizem economistas. O avanço acima do previsto, porém, não altera as projeções para o comércio ao longo de 2025, para o qual ainda se estima um crescimento próximo a 2%. Segundo Georgia Veloso, pesquisadora do FGV Ibre, o número de outubro vem no limite do que se pode chamar de estabilização — e é expressivo porque o setor vinha andando de lado há meses.

Gilberto Braga, economista e professor do Ibmec, diz que deve o resultado de novembro deve vir mais brando:

— As campanhas de Black Friday começaram antecipadamente em outubro e muitos consumidores usaram a data de aniversário do cartão de crédito para antecipar as compras e planejar o vencimento da fatura para novembro, junto com o crédito da primeira parcela do 13º salário. Deve haver uma suavização das vendas nesse último trimestre, com esse resultado robusto de outubro, que sinaliza uma antecipação do movimento de novembro e dezembro. Mas o ano não deve fechar com um crescimento acumulado inferior a 2%, porque os dois últimos meses são tradicionalmente aquecidos - afirma o economista, chamando atenção também para o efeito do setor de automóveis e autopeças, impulsionado por promoções e guerra de preços entre as montadoras.

Para Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital, o dado sugere que o varejo, embora desacelerado ao longo do ano, ainda apresenta algum grau de resiliência.

A pesquisadora do FGV Ibre, vê no avanço de outubro a influência da desaceleração da inflação, mas pontua que o efeito da política monetária também está evidente quando se faz a análise dos diferentes segmentos do varejo:

— Em outubro, há uma variação positiva bem disseminada. Mas, quando olhamos a comparação interanual, observamos que os segmentos mais associados à renda tiveram avanço mais expressivo frente a 2024, enquanto aqueles que dependem de crédito e parcelamento registraram, em sua maioria, resultados negativos. Em outubro há uma recuperação modesta frente aos últimos meses de 2025, após dois trimestres com tendência negativa de maneira bem disseminada no comércio. E, na comparação com 2024, persistem perdas nos segmentos mais dependentes de crédito — reforça a Georgia.