A deflação de 0,11%, em agosto, confirma a expectativa de que o IPCA continue cedendo no médio e longo prazo. Na avaliação de André Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre, há indícios de que a inflação será levada para a meta mais rápido do que se imaginava. O arrefecimento da inflação, somado à intensificação da desaceleração da economia, leva Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, e o economista Gilberto Braga a preverem corte de juros na última reunião do Copom este ano.
- Não vai ter deflação nos próximos meses. Esse evento é um evento de causa não recorrente (o bônus de Itapu), nos próximos meses vai ter inflação, mas uma taxa progressivamente menor. Com isso, abre-se o debate sobre a eficácia da taxa de juros, se ela já cumpriu o seu papel, e qual é o momento em que ela deve ser reduzida. O Boletim Focus, do Banco Central, mostra que a maioria ainda acredita na manutenção dos 15% ao longo deste ano e no início do ciclo de queda a partir de 2026. Mas eu acredito que já existam razões, devido à desaceleração do PIB e ao arrefecimento da inflação, para que na última reunião do Copom se possa discutir a possibilidade de corte de 0,25 - diz Braga, professor do Ibmec.
Para Braz, no entanto, toda a cautela é pouca. Apesar de destacar o cenário benigno para inflação, o economista aponta que Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), do FGV Ibre, que costuma antecipar o movimento de preços ao consumidor avançou 0,35%, revertendo a queda de 0,34% registrada em julho, indicando que ainda vivemos um período de instabilidade. A inflação de alimentos, que caiu pelo terceiro mês consecutivo no IPCA de agosto, uma deflação de 0,46%, pode ter quedas mais modestas para frente, avalia o economista.
- A expectativa de inflação para este ano estava mais próxima de 6% do que de 5%, como ela está agora. E pode ser até que o IPCA feche abaixo de 5% este ano. Então, de fato, tem havido indícios de que a inflação será levada para a meta mais rápido do que se imaginava. Mas o que eu estou dizendo é que toda cautela é pouca, porque a gente já começa a ver no IPA aumento de preços de bovinos, de café, de soja, de coisas que estavam caindo. Isso pode mostrar que essa queda, essa devolução que a inflação de alimentos estava registrando, pode não ser tão intensa e tão duradoura. É preciso observar esse comportamento de preço, acompanhar o mercado, ver para quem o Brasil está vendendo. Porque o Brasil perdeu os Estados Unidos, mas ganhou muito mercado com a China. Então, em alguns segmentos, ganhou até mais mercado do que tinha com os Estados Unidos. Nesse sentido, é mais espaço para exportar e menos oferta aqui no Brasil. E isso pode forçar aumento de preços. Por isso, não vejo espaço para redução de juros ainda, porque esses movimentos são precoces, o momento é de grande instabilidade - diz o economista do FGV Ibre.