A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) divulgada nesta terça-feira (24) sinaliza que a taxa básica de juros da economia (Selic), hoje em 15%, deve permanecer alta por um longo período para "segurar" a inflação. A decisão, no entanto, pode ter reflexos negativos no mercado de trabalho e no bolso do consumidor.
O principal impacto é na concessão de crédito, pois empréstimos e financiamentos tendem a ficar mais onerosos, o que desestimula o consumo e o investimento. Importante destacar que o Copom já observa sinais de moderação no crescimento, especialmente fora do setor agropecuário. Outro ponto é o impacto na geração de empregos formais, há expectativa de que os efeitos da política monetária nos próximos trimestres, afetem o emprego e a renda.
O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que a taxa de juros é um dos remédios contra a inflação. Mas ressalta que outro antídoto é o controle de gastos pelo governo.
"Política fiscal tem que andar de mãos dadas com a política monetária. O objetivo de se alcançar uma estabilidade monetária mais rápido é: o governo fazer uma boa gestão do gasto público, a política monetária trabalhar com juros nesse patamar por mais alguns meses, assim a meta de inflação seria alcançada", diz Braz.
Dessa forma, acrescenta, a meta de inflação seria atingida mais rapidamente, "torturando um pouco menos a população que sofre com um aumento de preços e também com o encarecimento do crédito".
Já o economista e professor do Ibmec, Gilberto Braga, destaca que o cenário externo, com tensões no Oriente Médio e as políticas econômicas dos Estados Unidos, dificulta a queda dos juros.
"A ata do Copom indica que o Comitê está atento aos desdobramentos da economia e poderá agir para controlar a inflação, mesmo com a manutenção da Selic", explica o economista, que acrescenta: "Taxas de juros mais altas podem beneficiar investimentos de renda fixa, mas também podem prejudicar o crescimento econômico."
O BC sinalizou que pode interromper o ciclo de alta, mas não descarta novos aumentos se a inflação não ceder como esperado. A expectativa do mercado é que os juros comecem a cair apenas em 2026, de forma gradual.
Impacto na economia
No bolso
•Juros mais altos nos empréstimos: Financiamentos de carro, casa e parcelamentos no cartão ficam mais caros. Isso significa que você paga mais no final por qualquer compra a prazo.
•Menos acesso ao crédito: Bancos e financeiras ficam mais rigorosos para conceder crédito, o que pode atrapalhar planos, como abrir um negócio ou trocar de carro.
•Inflação mais controlada (mas com custo): O objetivo dos juros altos é conter os preços, então alguns produtos e serviços tendem a subir menos ou até estabilizar. Mas, no curto prazo, o impacto no consumo pode ser negativo.
•Rendimento de investimentos conservadores: Aplicações como Tesouro Direto e CDBs tendem a render mais com Selic alta — boa notícia para quem tem uma reserva.
No trabalho
•Emprego mais escasso em alguns setores: Com a atividade econômica desacelerando, empresas podem adiar contratações ou até demitir — especialmente em setores que dependem de consumo interno, como varejo e serviços.
•Pressão por produtividade: Em tempos de crescimento lento, empresas tendem a cobrar mais resultado com menos recursos.
•Oportunidades em áreas específicas: Alguns setores como agronegócio, tecnologia e exportação, podem manter ou até aumentar vagas.
•Autônomos e pequenos negócios sentem mais: Com menos dinheiro circulando, pode cair a demanda por serviços e produtos, exigindo mais criatividade e adaptação.
Justificativa
Segundo a ata, o comitê justificou a decisão de manutenção da taxa em alta com base na resiliência da atividade econômica, nas pressões inflacionárias persistentes e nas incertezas globais, como o conflito no Oriente Médio e seus efeitos sobre o preço do petróleo.
A meta de inflação é de 3%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se ficar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
Desde setembro do ano passado, o ciclo de alta da Selic vem se mantendo e fez com que a taxa acumulasse elevação de 4,5 pontos percentuais.