Apesar de registrar o terceiro recuo consecutivo em dezembro, uma queda de 0,3%, a produção industrial brasileira fechou 2024 com o terceiro melhor resultado em 15 anos, uma alta de 3,1%, o que consolida um ano muito positivo para o setor. Os dados mensais, no entanto, já traçam uma trajetória diferente para este ano, ao mostrar uma queda disseminada da atividade em vários segmentos, especialmente bens de capital (máquinas e equipamentos), que tiveram uma variação negativa de 3%, e produtos de borracha e de material plástico (-2,5%), em dezembro. Apesar da aceleração prevista para este ano, não é previsto um grande revés, mas uma retração moderada, dizem os especialistas.
- A queda é registrada, principalmente, nos segmentos relacionados à transformação. É importante entender que essa queda é um sinal de alerta forte para os próximos meses. O ciclo de alta de juros vai conter a demanda e isso vai segurar a produção industrial. O câmbio também é um motivo de preocupação para o empresário, o real desvalorizado cria dificuldade para a importação de insumos e pode ter efeito sobre os preços do produto final, trazendo impacto para a inflação aqui dentro - explica Stéfano Pacini, pesquisador do FGV Ibre.
Gilberto Braga, professor de economia do Ibmec-RJ, ressalta que, apesar dos últimos resultados negativos, alguns segmentos da indústria continuam mostrando resiliência:
- O segmento de bens intermediários e o de veículos mostram resiliência nos resultados e devem continuar crescendo forte em 2025. Os resultados por segmento sugerem que a classe média foca na troca de carros e na substituição de eletrodomésticos, além de vendas de máquinas voltadas para o empreendedorismo e pequenos negócios.
Rodolfo Margato, economista da XP, avalia que, apesar das condições mais desafiadoras para 2025, não há previsão de uma reversão drástica na tendência de crescimento da indústria, e sim uma desaceleração gradual. Ele estima uma alta de 2,2% do setor para este ano.
Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, também acredita numa retração moderada para este ano. "Fatores como o aquecimento da demanda interna, uma balança comercial sólida e políticas governamentais de estímulo à atividade econômica devem contribuir para atenuar os impactos negativos", avalia.