O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco do Brasil (BC) definiu nesta quarta-feira a nova taxa básica de juros da economia, a Selic, para 12,25% ao ano.
O Comitê pisou no acelerador ao aumentar a taxa básica em 1 ponto percentual, sendo o maior aumento no atual ciclo de alta, iniciado em setembro. Um aumento assim não era visto desde maio de 2022, quando, os juros também foram elevados em 1 ponto.
Mas você sabe, na prática, como a alta dos juros afeta a sua vida? Entenda em cinco pontos:
1. Endividamento das famílias
Com o avanço da Selic tomando fôlego — grandes bancos acreditam que o ciclo vai se encerrar aos 15% ao ano —, o endividamento das famílias pode aumentar. Isso porque as instituições financeiras se baseiam na taxa básica do país para fornecer suas linhas de crédito, aumentando o risco de inadimplência.
Como o ciclo de alta é recente, as taxas médias de inadimplência nas operações de crédito têm se mantido estáveis ao longo de 2024. Dados do Banco Central mostram que a inadimplência da carteira de crédito geral apresenta um nível de estabilidade no ano, em torno de 3,2%, abaixo do registrado na máxima do ano passado, quando superou os 3,5%.
Para o professor de economia do Ibmec Gilberto Braga, um aumento na taxa Selic freia o consumo de forma geral e aumenta as chances de endividamento das famílias:
— As famílias já endividadas, que precisam rolar (adiar) a dívida, esse “empurrar com a barriga” fica mais caro. E, às vezes, isso vira uma “espiral”, efeito bola de neve. Se não consegue pagar, empurra para frente, contrata-se juros mais caros e afunda mais a família no endividamento — diz.
2. Crédito para as empresas
O especialista também aponta que um ciclo de alta aumenta o custo do crédito para quem quer montar um negócio. Isso porque o aumento da Selic é um mecanismo para frear a perspectiva de inflação futura. Por isso, o crédito mais caro para as empresas pode também frear os dados de investimento no país.
— Uma das contas que se faz é: quanto custa abrir ou expandir um negócio? Com custo de juros mais altos, o custo total aumenta.
Além do investimento mais restritivo nas empresas, o que acaba impactando contratação de pessoal e aportes em maquinário, o professor do Ibmec afirma que o consumidor que compraria daquela empresa também tem seu crédito mais restrito, impactando as vendas:
— Por outro lado, o empresário se questiona: o quanto eu vou vender com um novo negócio? Taxas mais elevadas inibem consumo. Os dois vetores de tomada de decisão empresarial dificultam a expansão.
3. Crédito imobiliário
A tendência é que o financiamento do imóvel novo fique mais caro, reduzindo o apetite do consumidor pela casa nova. Neste mês, por exemplo, a Caixa lançou uma linha de crédito para financiar imóveis com juros mais altos do que os financiamentos com recursos da poupança.
Para Braga, este já é um sinal de um dos maiores bancos financiadores de imóveis do país sobre o mercado imobiliário, que também tem direcionado às construtoras uma linha com taxa mais elevada.
— Há uma maior barreira, porque o trabalhador que precisa sair do aluguel ou melhorar a casa que tem, tem recurso para pagar prestação, mas não tem reserva acumulada para pagar uma entrada, necessária para fechar o financiamento — diz, apontando que a restrição maior do financiamento por conta do juro mais alto impacta o mercado imobiliário.
A construção civil também tende a ficar mais cara. Segundo ele, o juro mais alto e o dólar mais apreciado pressionam os custos para o maquinário e as matérias-primas das construções, que podem impactar o preço final do imóvel, criando assim mais uma barreira para a aquisição do imóvel.
4. Atividade econômica
A taxa de juros produz um efeito direto sobre o nível de consumo da população. Com um aumento da Selic, o consumo de bens duráveis é mais prejudicado, já que ele se apoia na concessão de crédito. Com as linhas de financiamento mais caras, a atividade econômica como um todo tende a desacelerar.
Braga pontua que a situação atual do ciclo de alta advém do impulso fiscal promovido pelo governo nos últimos meses. Por conta disso, o aumento de juros é a medida tradicional para que as expectativas de inflação sejam devolvidas para o intervalo desejado:
— O desequilíbrio das contas dos governos levam a uma situação em que se fica sem outra alternativa a não ser aumentar juros para combater a inflação. Apesar dos resultados positivos da economia ao longo dos últimos meses, traz bastante dúvida sobre a sustentabilidade desse modelo no médio e longo prazos.
No último Boletim Focus, divulgado na segunda-feira, os investidores preveem uma inflação de 4,84% para 2024 e 4,59% para o ano que vem. Ambos extrapolam o teto da meta definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 4,5%, e bem acima do centro da meta, de 3%.
Bens não duráveis, o setor de comércio varejista e o de serviços também tendem a ser impactados com o movimento de aperto monetário.
5. Aplicações financeiras
A Selic também influencia as taxas das aplicações financeiras. Com o ciclo de alta, os produtos de renda fixa tendem a ganhar ainda mais atratividade, pois a tendência é que a rentabilidade cresça sem grandes riscos.
Os títulos públicos pós-fixados (cuja remuneração final depende da Selic ou do IPCA), como o Tesouro Selic e o Tesouro IPCA+, tendem a ter um retorno mais positivo. Com o mercado financeiro precificando uma taxa de 15% antes de começar um movimento contrário, os prêmios oferecidos em alguns papéis do Tesouro apresentaram o recorde para o ano nesta semana.
Mas nem todos os títulos do Tesouro possuem atratividade com o aumento.
Quando há um ciclo de alta na taxa básica de juros, os títulos prefixados, que possuem a taxa de rendimento fixa e informada na hora da compra, tendem a se tornar menos atraentes. Isso porque eles seguirão oferecendo a taxa predeterminada mesmo diante do aumento dos juros e da posterior venda de novos títulos utilizando como base a nova taxa Selic.