Clippings

ATribuna - Saulo Andrade (23/10/2023)

Brasileiro pode pagar mais caro por gasolina, com Irã no conflito de Israel

Especialista afirma que Brasil precisa investir em refinarias, se não quiser seguir refém de guerras

A guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas traz à tona o temor de que ela se espalhe por todo o Oriente Médio. Isso porque a possível participação de países como o Irã - um dos maiores produtores mundiais de petróleo do mundo - pode afetar significativamente o preço da gasolina nas bombas do Brasil e de todo o planeta.

Especificamente, em relação ao fornecimento, especialistas acreditam que pode não haver uma ameaça imediata. Mas, reconhecidamente financiador da existência e das operações do Hamas, a diplomacia do Irã tem dito que não compactuou com a ação terrorista; mas, na prática, é um país crítico a Israel.

Fato é que, de acordo com analistas econômicos, o eventual alargamento do conflito na região, que venha a fazer com que o Irã participe da guerra, pode trazer consequências imediatas à cotação do barril, que já vem subindo, em cerca de 20%.

Para o economista Adhemar Mineiro (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) ainda há dúvidas sobre o possível alargamento da guerra no Oriente Médio. Ele observa que o Irã já é parte dela, ainda que indiretamente.

"Uma entrada explícita complica ainda mais a situação. Obviamente, os preços internacionais afetam os preços daqui, porque importamos uma parte do petróleo. Os derivados internacionais estão subindo de preço, não apenas por conta do conflito, mas também por causa de problemas de abastecimento", observa Mineiro, ressaltando ainda que o Brasil importa itens como diesel, gás de cozinha e querosene de aviação.

Ainda de acordo com o especialista, o Brasil só poderia ter uma política mais consistente, se fizesse uma expansão das próprias refinarias.

"É um processo que toma tempo. Não há muito o que fazer, de imediato, em relação a essas variações internacionais. Com a nova política de preços, a Petrobras pode segurar os preços, mas não por muito tempo", crava.  

Outro economista, Gilberto Braga, do Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais, avalia que, caso haja uma ampliação da guerra, com a participação de outros países, como os Estados Unidos e os da União Europeia, favoráveis à posição de Israel; além de Rússia e Egito, que possam vir a apoiar a causa palestina, poderá fazer com que o preço do barril do petróleo vá a US$ 150.

"Isso representaria um aumento de 100%, em relação à cotação que se pagava, antes do início do conflito", sublinha Braga. 


Comperj

A Petrobras anunciou, em abril, que estuda a possibilidade de voltar a investir em petroquímica, ampliando-se os investimentos em suas refinarias, com foco no biorrefino.

A companhia informou que avalia mudar o escopo do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), localizado em Itaboraí, - atualmente voltado a processamento de gás e produção de lubrificantes -, para produzir produtos petroquímicos de segunda geração: Cumeno e etil benzeno (produzidos a partir do benzeno); Polipropileno e acrilonitrila (produzidos a partir do propeno).

Vale lembrar que, inicialmente, o Comperj foi concebido como um complexo petroquímico, mas o empreendimento se tornou, posteriormente, num projeto de refino - também inacabado, no contexto da Operação Lava Jato, em 2015.