Artigos

O Dia (08/04/2022)

Cancelaram a globalização

O conflito na Ucrânia já está forçando o mundo a se dividir novamente em dois blocos, a partir das grandes proporções das sanções econômicas impostas pelo ocidente à Rússia e vice-versa

A invasão da Rússia à Ucrânia, qualquer que seja o seu desfecho, trará o fim do processo de integração econômica e liberdade geográfica que se formou com a globalização do mundo, após o fim da Guerra Fria e da União Soviética. A liberdade comercial que permitiu a formação de um grande mercado universal (ou market place mundial, para usar uma expressão da moda) sempre prevaleceu sobre as diferenças políticas e ideológicas.

Esse modelo de globalização soube conviver com regimes ditatoriais e antidemocráticos, privilegiando a chamada economia de mercado e o aproveitamento das vocações e riquezas dos países. Esse esquema, por exemplo, permitiu que a China despontasse economicamente, mesmo sendo uma ditadura nascida num regime político comunista, como um país capitalista de mercado.

O conflito na Ucrânia já está forçando o mundo a se dividir novamente em dois blocos, a partir das grandes proporções das sanções econômicas impostas pelo ocidente à Rússia e vice-versa. Não se trata de um conflito de menor dimensão, com o qual se pode conviver como se fosse uma guerra restrita a um espaço geográfico delimitado e pequeno. Não se está diante somente de discussões sobre identidade cultural ou de direitos territoriais históricos.

Trata-se de uma guerra com efeito dominó, em que ao cair uma peça, as seguintes vão sendo derrubadas. Os países precisam se posicionar e tomar posições a favor do agressor ou do agredido, ainda que diplomaticamente possam fazer o discurso da paz.

A economia Rússia é aparentemente pequena, sendo a 12ª maior do mundo de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), mas o país é um relevante fornecedor internacional de suas riquezas abundantes, como petróleo, que representam de 80% de suas exportações, sendo o terceiro maior produtor do mundo. Destaca-se, também, a produção e exportação de gás natural, em que é o segundo maior fornecedor global.

Para se ter uma dimensão, quase a metade do gás que aquece a Alemanha provém dos gasodutos mantidos com a Rússia. Por isso, quando se impõem sanções econômicas à Rússia, está se rompendo os laços comerciais regulares que foram estabelecidos no período pós-Guerra Fria com os países membros da União Europeia, como parte dessa integração da globalização.

Quando se pensa em Rússia, deve-se também incluir uma boa parte dos demais países que faziam parte da antiga União Soviética, onde ainda mantém interferência e alinhamento político. Por isso, se fala na possibilidade de uma nova bipolaridade econômica e política, com o mundo se dividindo em ocidentais de um lado e Rússia de outro, com a uma certa dúvida com relação à posição da China. Os chineses têm votado na ONU e nos demais fóruns internacionais contra a invasão ao território ucraniano, mas economicamente não aprovam as restrições econômicas, o que é conveniente por serem grandes parceiros comerciais.

Esse efeito global afeta o Brasil, como todos já estamos experimentando nos preços dos combustíveis e dos alimentos de uma forma geral. O que já estava ruim por conta dos nossos próprios problemas, como a volta da inflação alta e da subida da taxa básica de juros (Selic), está ficando muito pior por conta dos efeitos financeiros da guerra no Leste Europeu.

As consequências mais diretas para a Economia brasileira é que petróleo, caro no mundo, encarece o seu custo no Brasil. Não apenas do diesel, da gasolina e do gás, mas dos plásticos e de todos os derivados que servem de insumo na indústria. Ou seja, é inflação direta na veia. Some-se a isso, o trigo e os fertilizantes russos, que desfalcam o mercado e que chegam na nossa mesa, com aumento do preço do pãozinho francês, do arroz, do feijão e de tudo que é plantado.