Clippings

Mais Retorno - Tom Morooka (30/07/2021)

Período para participar do IPO da Raízen termina na segunda-feira; vale a pena investir na empresa?

A empresa pretende usar os recursos levantados no IPO para mudar a estrutura de negócios e caminhar na direção de uma energia menos poluidora

Considerado o maior IPO da atual temporada, a oferta inicial de ações da Raízen vai monopolizar a atenção de investidores e mercado financeiro na próxima semana, de ponta a ponta.

O período de reserva para a compra de ações da companhia integrada de energia, maior produtora de biocombustíveis do País, termina na segunda-feira, dia 2; no dia seguinte, terça-feira, 3, ocorrerá a precificação dos papeis, com a conclusão do processo de book building ou coleta de intenção de compra entre investidores. O IPO está marcado para a quinta-feira, 5, na bolsa de valores brasileira.

A companhia possui 22 parques de bioenergia, a maior parte no Sul do País, onde são produzidas a biomassa a partir da cana de açúcar.

A estreia da Raízen na B3 ocorrerá sob o código RAIZ4, com preço estimado para a ação entre R$ 7,50 e R$ 9,50. A expectativa é que a captação chegue a R$ 10 bilhões, se for vendido o lote total ofertado.

Essa cifra, se alcançada, corresponde a cerca de 1/7 a 1/8 do valor da empresa, avaliado entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões, calcula Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.

Analistas consideram a companhia financeiramente bastante robusta. Criada em 2011 a partir da fusão de duas gigantes do setor de energia, a Shell e a Cosan, a empresa detém cerca de 30% da fatia de mercado na distribuição de combustíveis, sob a bandeira Shell, atrás apenas das vendas da Petrobras. Sua receita anual é estimada em R$115 bilhões, o que a situa como quarta maior empresa do País em faturamento.

Além da distribuição de combustíveis, a Raízen atua no setor de produção de etanol e açúcar e na comercialização de energia elétrica.


Como serão usados os recursos do IPO da Raízen

A empresa pretende usar os recursos levantados no IPO para mudar a estrutura de negócios e caminhar na direção de uma energia menos poluidora, com menos ou livre de emissão de CO2, pontua Simone.

Atualmente, 80% do lucro da companhia tem origem na produção do etanol de primeira geração, extraído da primeira moagem da cana. O restante vem do etanol de segunda geração, que é pouco mais cara, mas tem pegada ecológica, porque é livre da emissão de CO2.

Simone comenta que a estratégia da Raízen é investir 75% dos recursos levantados no IPO em um novo modelo de atividade em que a parte maior do lucro venha da produção do etanol de segunda geração e biogás.

Para a economista-chefe da Reag Investimentos, diante dessa proposta de remodelação de atividade, quem comprar as ações nessa oferta estará investindo em uma Raízen nova, que ainda não existe e pretende gerar lucros com expansão de negócios renováveis. “Uma aposta de longo prazo na nova Raízen, que não se sabe ainda aonde chegará no futuro.”

Outro ponto a que ela chama atenção é o preço da ação proposto na oferta, de 8,5 vezes sobre o valor do EV/Ebitda (Enterprise Value, também chamado valor da firma). Simone considera que é um múltiplo muito alto. “A ação está muito valorizada, comparada com o de empresas pares de países desenvolvidos”, avalia a economista.


Setor de atuação é promissor

Gilberto Braga, professor e economista do Ibmec-RJ, aponta boas perspectivas para a Raízen, afirmando que a empresa participa de um setor promissor, “até recentemente concentrada em multinacionais e em uma gigante estatal, a Petrobras”. A diversificação, coma entrada de novos participantes, torna o segmento mais atraente, reforça.

Para Braga, a estreia da Raízen na bolsa de valores adiciona valor agregado ao setor de distribuição de combustíveis, muita governança à atividade e investimento sem endividamento. Ele acredita em uma procura por ações no IPO maior que a oferta, uma forte demanda que pode levar o preço ao maior degrau, R$ 9,50. “É uma boa aposta”

Hugo Queiroz, analista do TC, diz que pelos fundamentos e potencial da companhia, que entrega uma média de crescimento de 20% ao ano, recomendaria compra até o preço médio de R$ 8,50. “Acima disso, o investidor começa a pagar muito sobre o que a companhia entrega.”

Embora acredite que o IPO atenda mais a uma estratégia corporativa de adicionar valor às empresas que fazem parte do grupo Cosan, Queiroz afirma que a Raízen não é uma empresa endividada, é geradora de resultados robustos, e a estreia na bolsa pode abrir a porta para a entrada em novos segmentos. “Como o de refino, o que seria positivo, porque pode ajudar o setor a percorrer caminhos que levam a novos segmentos, porque a Petrobras pode deixar de ter o monopólio.”

O ponto principal desse IPO, destaca Queiroz, “seria destravar o valor da Cosan, listada na bolsa por R$ 50 bilhões para um ativo que vale R$ 80 bilhões, e fazer o mercado pagar um valor justo pela holding, que, estaria barata.” Só a participação dela na Raízen valeria R$ 50 bilhões, calcula Queiroz. “Ela quer adicionar o que falta a seu valor”.  Fazem parte da holding, além da Raízen, a Rumo e a Compass, dona da Comgas.