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O São Gonçalo - Ana Carolina Moraes (18/03/2021)

Xepa na vida real: população gonçalense sente alta no preço dos produtos durante a pandemia

Economista explica qual será a tendência de preço dos alimentos para os próximos meses

Com o aumento dos preços dos produtos nos mercados, a população brasileira vem vivendo na ‘Xepa’, assim como alguns dos participantes do Big Brother Brasil 21. Para quem não sabe, a Xepa do programa é o grupo contrário ao VIP. No VIP, tem comida ilimitada e mais dinheiro para comprar alimentos, já na Xepa, a alimentação tem menos variedades por conta dos preços mais altos. Nos mercados da vida real, a situação da Xepa se repete. E, com isso, a população gonçalense, hoje, luta para lidar com essa nova realidade no orçamento familiar.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, o preço da costela teve um aumento de 29,74%, já o valor do músculo aumentou 27,67%; bem como o do cupim, que aumento 26,79%, e o do acém que aumentou 20,75%. Quem mais sofre com esse aumento dos preços são as famílias com as rendas mais baixas. Graças à inflação, por exemplo, o preço do arroz, alimento básico na mesa do brasileiro, aumentou cerca de 70% de janeiro a novembro do ano passado, de acordo com dados do IBGE. Já o preço do feijão, segundo o mesmo estudo, aumentou cerca de 40%. 

A dona de casa Sandra Azedias, de 57 anos, sente diretamente o aumento dos preços dos alimentos prioritários. Segundo ela, não é possível ir ao mercado hoje com menos de R$ 100 e esperar comprar carne, arroz e feijão, alimentos básicos para o almoço do brasileiro. "Esse aumento dos preços dos produtos ficou mais forte na pandemia. A carne está extremamente cara. Hoje, um prato com frango e arroz sai até por menos de R$ 50 reais, mas com carne não sai por menos de R$ 100. O meu marido está desempregado, então, me viro com algumas faxinas que faço e sustento a casa, mas está difícil. Ainda tento, ao máximo, permanecer comprando minhas frutinhas para manter uma alimentação saudável", contou.

A fisioterapeuta Leililani Oliveira, de 47 anos, também contou que vem sofrendo bastante com o aumento do preço dos alimentos na pandemia. "Ontem eu fiz carne assada com batata para o almoço para todas as pessoas da minha casa e deu mais de R$ 80 reais. É uma sensação de frustação, é péssimo! Antes da pandemia, esse mesmo almoço não era todo esse valor. Sem contar que, com essa inflação, também aumentou o valor de outras coisas básicas para a cozinha, como o gás, por exemplo. Ontem à tarde, fui ao mercado com R$ 50 e saí com quase nada, está tudo muito caro", disse ela.

O economista Gilberto Braga explicou a O SÃO GONÇALO um pouco do que vem ocorrendo com os preços dos produtos dos mercados na pandemia. Segundo Braga, o auxílio emergencial do governo federal, disponibilizado na pandemia, fez com que muita gente procurasse os alimentos em maior quantidade nos mercados e, com isso, a demanda cresceu, mas a produção desses produtos permaneceu a mesma, o que fez o preço destes aumentar.

"O preço dos alimentos cresceu por conta do dólar mais caro em relação ao real e do pagamento da ajuda emergencial. A valorização do câmbio faz o produto brasileiro, que é fixado em reais, custar mais barato para o estrangeiro em dólares, favorecendo as exportações. A ajuda emergencial foi primordialmente utilizada pela população mais carente na alimentação, aumentando a demanda, num momento em que a oferta de produtos não cresceu, logo o preço aumenta", explicou.

O especialista, que também é professor em duas universidades privadas no Rio, informou que produtos como cebola, batata, arroz, feijão foram os que mais tiveram seu preço aumentado na pandemia, ou seja, os produtos primordiais para a alimentação do brasileiro. Como dica para tentar economizar, o economista informa que é necessário aproveitar as promoções nos mercados.

"As pessoas devem aproveitar as promoções e, se for possível, estocar os itens de maior consumo familiar. Outra dica é fazer as substituições dos itens que estiverem caros, dando preferência aos produtos de safra, que ficam mais em conta. Desde janeiro de 2021, com fim do pagamento da ajuda emergencial, as vendas nos supermercados caíram, em média, 10%. Isso prova que a ajuda emergencial e a renda do brasileiro têm na alimentação um dos seus componentes mais relevantes, junto com a moradia, transporte e contas de consumo", acrescentou Gilberto Braga. 

Sobre o futuro, vai depender da continuidade ou não da inflação, mas isso vai variar conforme o ritmo de vacinação da população contra o coronavírus. "Para a economia funcionar e a cotação do dólar baixar é preciso diminuir o contágio e as medidas de restrição social. A queda dos preços dos alimentos depende muito de avançarmos na velocidade imunização da sociedade, o que ainda é uma dúvida até para o início de 2022, considerando que não há garantia ainda de vacina para para todos", finalizou.