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O Fluminense - Ulisses Dávila (18/10/2020)

Pix promete facilitar transações financeiras, mas ainda há dúvidas

Sistema de pagamentos instantâneo e gratuito para pessoas físicas deve começar a funcionar em novembro

Com mais de 30 milhões de adesões desde que o Banco Central permitiu a realização de cadastros, o sistema de pagamentos instantâneos Pix, que promete revolucionar a vida financeira de todos os brasileiros a partir de novembro, ainda é uma incógnita para a grande maioria das pessoas. Agilidade para os que compram, segurança para os que vendem e inclusão para os que empreendem, são apenas algumas das vantagens do novo sistema, que também promete mais liberdade para as pessoas procurarem os bancos que melhor lhe atendam e transparência em relação ao histórico de transações financeiras de cada um.

Pix nada mais é do que uma tecnologia desenvolvida pela Banco Central que permite realizar operações de maneira quase instantânea.

Alguns dizem que a palavra veio de ‘pixel’, para representar a transformação digital e a inovação tecnológica no sistema financeiro. A plataforma, inspirada em tecnologias como a Real-time Payment america e a Open Banking inglesa, surgiu como uma busca por mais segurança e pela diminuição do tempo de transferência do dinheiro de uma conta para outra, em transações online, como explica Ivando Silva de Faria, professor de finanças da UFF.

“O dispositivo Pix certamente vai dar fim ao Doc, ao Ted e ao boleto. Vai funcionar como sistema de pagamentos e transferências, muito parecido com esses citados, só que instantâneo e gratuito para pessoas físicas. Qualquer celular poderá operar com a plataforma através de aplicativos. O que vai promover uma inclusão. O pequeno comércio, o camelô o pipoqueiro, enfim, todos vão poder usufruir”, elogia Ivando.

A expectativa é que o sistema seja aberto para toda a população a partir do próximo dia 16 de novembro. Bancos, instituições financeiras e plataformas de pagamento poderão fazer operações através do Pix. O tempo médio da operação será de 10 segundos, segundo Ivando, que lembra que o sistema também poderá ser acessado a qualquer hora ou dia da semana, diferente das operações digitais de hoje, que quase sempre só funcionam até às 22h e em dias úteis.

“As pessoas poderão cadastrar até cinco daquilo que ficou denominado como chaves, que serão identificações individuais associadas a uma conta bancária. Poderão ser usados como chave o CPF, o CNPJ, o número do celular, o endereço de e-mail ou um código gerado aleatoriamente. Particularmente acredito mais neste código aleatório, afinal ninguém vai querer sair por aí dando números de celular, CPF, ou endereço de e-mail’, pontua o professor da UFF.

Após registrar as chaves no banco em que é cliente, a auxiliar de compras Kethllen de Souza, de 25 anos, espera agora que o sistema, de maneira bem otimista, que o sistema comece a funcionar para saber se ele vale realmente a pena.

“A meu ver o pix não tem desvantagens, até por que, não vai ser obrigatório, a gente vai poder continuar efetuando pagamentos da forma atual. Só que ele vai ser muito mais rápido e não vai ter custo, quem iria querer ficar de fora disso?’, ressalta Kethllen

O Brasil é considerado o país mais avançado em termos de tecnologia bancária no mundo, uma herança da época em que a gente tinha uma hiperinflação que fez com que esses sistemas se desenvolvessem. Nos tornamos referência em termos de produtos e serviços financeiros. E, segundo Gilberto Braga, economista e professor de finanças do Ibmec, o Pix surge como mais uma consequência desse investimento em tecnologia, principalmente após a popularização desses serviços causada pela pandemia, que trouxe a adesão de quem ainda hesitava em utilizar a transações eletrônicas pelo celular.

“Será possível ter vários Pix. Quem tem conta em vários bancos poderá associar cada uma a um pix diferente. A partir disso, quando o sistema começar operar, bastará apenas oferecer umas dessas chaves de identificação. O que é muito diferente dos atuais Ted e Doc, que precisavam ser preenchidos com todos os dados da pessoa. Automaticamente o novo sistema vai buscar todas essas informações, não será preciso ter o número do CPF, razão social, número do banco, agências, contas, entre outros. Isso será automaticamente encontrado dentro dessa chave de identificação. Mas é preciso ter bastante cuidado, uma vez feita uma transação com o Pix, ela não pode ser cancelada”, alerta Gilberto. A adesão ao Pix já tem sido oferecida pelos aplicativos da maioria dos bancos. Os valores que poderão ser transacionados pelo novo sistema vão variar de acordo com o perfil de cada cliente, do mesmo modo que com outros serviços bancários. Os limites também vão variar de acordo com o dia da semana e o horário em que for utilizado o serviço. Transferências e pagamentos poderão ser agendadas, da mesma forma que ocorre com o Doc e Ted. E ainda, a portabilidade das chaves de um banco para outro, deverão ser oferecidas de maneira simplificada. “Embora isso nunca seja oficialmente colocado, especula-se que do ponto de vista de vigilância das autoridades, nos casos previstos em lei onde é possível quebrar o sigilo bancário das pessoas, essa seria uma forma de recuperar toda movimentação. Preocupação para os que não gostam de ter sua privacidade vasculhada, pois o Pix será um facilitador para que os outros o investiguem. Claro que isso só em casos muito específicos com ordem judicial, nem a Receita Federal tem autorização para fazer isso”, conclui Braga.