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Broadcast - Fernanda Nunes (13/03/2019)

Petrobras ainda avalia cortar R$ 30 bi de custos

Além de fechar escritórios, a Petrobras quer gastar menos com salários e direitos trabalhistas

A Petrobras anunciou o corte de US$ 8,1 bilhões na área administrativa, com gastos que mais têm a ver com a estrutura da empresa do que com a produção de petróleo. Na linha de frente desse programa de redução de custos, batizado de ‘plano de resiliência’, os empregados devem ser os mais atingidos. A maior parte dos cortes será com a adesão de funcionários ao programa de demissão voluntária e com a extinção e mudanças na rotina dos escritórios. Logo num primeiro momento, funcionários se preparam para trabalhar até três dias da semana em casa. Já os gastos com patrocínio e publicidade, também inseridos no plano, pouco vão contribuir. Nesses casos, a principal mudança deve ser de rota, à medida que contratos vigentes caducarem e projetos firmados com grupos culturais forem substituídos por outros das áreas de ciência e tecnologia e educação, principalmente infantil, segundo fontes da empresa.

O plano de resiliência foi anunciado pela Petrobras na noite da última sexta-feira, 8, ao fim da semana de carnaval. O anúncio antecedeu a conclusão do trabalho interno de cálculo do quanto cada área deve contribuir para a economia. Por enquanto, o que existe é uma meta de US$ 8,1 bilhões, equivalente a R$ 30 bilhões (com o dólar a R$ 3,8) que devem ser eliminados ao longo de 2019 a 2023, período do Plano de Negócios. Por ano, a redução média projetada é de R$ 6 bilhões.

“Cortes de gastos com pessoal - a companhia anunciará em breve um programa de desligamento voluntário - e de despesas discricionárias, como publicidade, patrocínios e outros, e economias derivadas da otimização do uso de prédios administrativos são as principais fontes da redução de custos”, informou a petroleira aos investidores, em fato relevante.

A área de patrocínio, na verdade, tem um peso pequeno nos gastos gerenciáveis da petroleira - foram R$ 220 milhões em 2018, dos quais R$ 133 milhões vão para as áreas cultural, esportiva e de eventos e R$ 87 milhões para a socioambiental. Mesmo que todo esse orçamento fosse extinto, a Petrobras economizaria menos de 4% do que planeja. Segundo apurado, o trabalho de revisão dos patrocínios ainda não foi concluído. Mas o esperado é que não haja grande corte de valor. As mudanças devem ficar mais na linha do conteúdo dos projetos financiados pela estatal.


Publicidade

Com publicidade, o gasto da empresa gira em torno de R$ 120 milhões por ano, 2% do pretendido. Esse volume de dinheiro foi gasto no ano passado na tentativa de recuperar os indicadores de confiança, imagem e reputação da empresa, após a Operação Lava Jato. A petroleira também recorreu à mídia para esclarecer a população sobre sua política de preços dos combustíveis, que, em maio do ano passado, pesou na decisão de caminhoneiros para paralisar o País com uma greve.

Entre os custos gerenciáveis, o que faz a diferença realmente são os com pessoal - R$ 32 bilhões no ano passado. As despesas com aluguel de escritórios não está transparente no resultado financeiro. Procurada, a empresa também não informou. Assim como não há dados do número de prédios alugados e valores pagos por eles. O presidente da companhia, Roberto Castello Branco, em comunicado aos empregados informou apenas que o prédio que mantém na Avenida Paulista é o mais caro entre os mantidos pela companhia. Por isso será devolvido.

“As pessoas que trabalham nesse prédio (no Edisp, em São Paulo) - temos uma estimativa de 655 pessoas - serão direcionadas para outros lugares de custo mais baixo. São pessoas da área administrativa. São colegas do TI, do compartilhado, de gestão de pessoas... que não serão direcionadas para outras áreas, como refinarias. Vão para localidades de custo mais baixo. Algumas vão permanecer em teletrabalho (trabalho de casa)”, disse o presidente aos funcionários.

A mudança na rotina dos escritórios foi iniciada em 2014. Apenas nos anos de 2017, 2018 e primeiros meses de 2019, a economia alcançada foi de cerca de R$ 1 bilhão. A ideia, a partir de agora, é intensificar esse modelo de trabalho. O projeto-piloto experimentado na área administrativa do Rio de Janeiro deve ser estendido a outras áreas de atuação, começando por São Paulo.

“É uma mudança cultural, sobretudo em se tratando de uma empresa estatal, possível porque a Petrobras está avançando na sua prática de governança e conformidade”, avalia Gilberto Braga, especialista em Finanças do Ibmec.

Nesse experimento, foi dada a escolha aos funcionários de trabalhar remotamente, de casa, de um a três dias na semana, dependendo de uma negociação direta com o gerente de cada departamento. Os gastos com internet e eletricidade, por exemplo, passam a ser assumidos pelo empregado nesses dias. O telefone fica com a empresa, que instala os ramais nos computadores.

Além de fechar escritórios, a Petrobras quer gastar menos com salários e direitos trabalhistas. No ano passado, foram R$ 19,4 bilhões em remunerações e R$ 12,9 bilhões em benefícios e FGTS. Para isso, prepara um programa de incentivo, também em estudo.