Se você tem 20 bitcoins no bolso, ou melhor, na carteira virtual, possui o suficiente para comprar um bom apartamento na região Centro-Sul de Belo Horizonte, uma das mais valorizadas da Capital. É com essa simplicidade que o conselheiro da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), Ariano Cavalcanti de Paula, sugere que o mercado imobiliário trate o tema das criptomoedas ou moedas virtuais, a mais popular delas o bitcoin, que estava valendo R$ 36.849 ontem.
Segundo Ariano Cavalcanti, apesar de ainda ser incipiente, o comércio de imóveis com o uso de bitcoins já é uma realidade. Ele preside a Netimóveis rede que reúne imobiliárias , que está fazendo esse tipo de anúncio. Como exemplo ele cita um lote em condomínio de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, cujo proprietário aceita bitcoin como pagamento.
O dono do imóvel é o advogado Carlos Henrique de Oliveira Gomes. Ele disse que vem acompanhando de perto o mercado de bitcoins e resolveu inovar, investindo na moeda virtual. Para tal, colocou o lote à venda e aceita como pagamento o valor total ou parcial em bitcoin. O advogado acredita que o negócio não envolve grandes riscos porque, dependendo da cotação da moeda, ele pode fazer a conversão em real logo após a transação. Do contrário, ele guardará a moeda virtual em numa corretora especializada no ramo.
Cavalcanti considera que há muitas complicações desnecessárias envolvendo o assunto. Ele irá ministrar hoje, na sede da CMI/Secovi-MG, na Savassi, a palestra "Criptomoedas nas negociações imobiliárias". Na avaliação dele, o bitcoin pode ser utilizado como mais um meio de pagamento a ser aceito para aumentar o leque de opções do mercado imobiliário. Uma das vantagens é que a moeda virtual tem maior liquidez.
Mas o próprio Cavalcanti aponta que um dos problemas é a grande volatilidade, ou seja, se ontem o bitcoin valia R$ 36.849, não se sabe quanto ele vale hoje ou quanto estará valendo amanhã. Outra questão, segundo Cavalcanti, é a segurança sobre onde a moeda virtual será guardada. Há corretoras especializadas nesse segmento que abrem uma espécie de conta virtual, com um código, para o "depósito" das criptomoedas. Ele também alerta para a necessidade de que todas as operações sejam devidamente declaradas nos órgãos competentes.Professor de finanças do Ibmec/RJ, Gilberto Braga acredita que a criptomoeda pode vir a ser mais uma alternativa para o mercado imobiliário. "Tudo que facilitar o acesso à transação imobiliária é importante. É um setor importante para a vida das pessoas", disse. Entretanto, ele considera que ainda são necessárias análises para verificar como se dariam as operações num setor dependente de uma série de registros e certidões.Braga também faz a ressalva de que as criptomoedas ainda envolvem muitas discussões e, por enquanto, passam longe da regulação dos bancos centrais, existindo alertas sobre o seu uso em diversos países, entre eles Brasil e Estados Unidos.
Em novembro passado, o Banco Central emitiu comunicado alertando que as moedas virtuais não são emitidas nem garantidas por qualquer autoridade monetária, por isso não têm garantia de conversão para moedas soberanas, e tampouco são lastreadas em ativo real de qualquer espécie, ficando todo o risco com os detentores. "Seu valor decorre exclusivamente da confiança conferidas pelos indivíduos ao seu emissor", diz o alerta.
Blockchain - Além de esclarecer sobre as criptomoedas, Ariano Cavalcanti também abordará, em sua palestra na CMI/Secovi-MG, o tema do desenvolvimento de soluções de blockchain para o mercado imobiliário. O blockchain é a tecnologia por trás do bitcoin. Cavalcanti é representante do Internacional Blockchain Real Estate Association e presidente da cooperativa de crédito Sicoob Secovicred.
Ele explica que o blockchain pode ser aplicado a vários setores, como contratos e direitos autorais, indo muito além das criptomoedas. A tecnologia tem capilaridade extensa e permite que "todo mundo enxergue o que todo mundo faz", conforme Cavalcanti. Seu principal diferencial é não permitir a duplicidade de informação, garantindo maior segurança.